ANATOMIA DE UMA PAIXÃO; um texto para os fãs de Lacan...
O que eu vi ontem no vestiário do Botafogo após a derrota do mesmo para o Flamengo na final da taça Guanabara coloca a DIVINA COMÉDIA de Dante no chinelo. Faz qualquer super produção do Cecil B. Mille parecer uma chanchada qualquer. Transforma a Ilíada de Homero numa piada pífia.
Eram 25 homens transtornados, aos prantos, chorando desesperados por sentirem-se prejudicados pela arbitragem durante a peleja.
E para culminar com a grandiosidade das grandes tragédias gregas o presidente; Renunciou ao mandato. Tudo ao vivo, diante das câmeras e de atônitos repórteres. Pois é.
Acompanhei tudo na ESPN Brasil, que é o melhor e único canal de esportes do Brasil que trata o esporte com qualidade e excelência. Os jornalistas, João Carlos Albuquerque, Arnaldo Ribeiro e o ótimo Mauro Cézar Pereira (como esse cara é bom! Fera, mesmo!!) se diziam perplexos diante de tamanho descontrole por parte dos dirigentes do Botafogo, sem conseguir entender o porquê daquela reação. Bem; Acho que um fato que aconteceu comigo há uns anos atrás talvez possa ajuda-los...
Eram 25 homens transtornados, aos prantos, chorando desesperados por sentirem-se prejudicados pela arbitragem durante a peleja.
E para culminar com a grandiosidade das grandes tragédias gregas o presidente; Renunciou ao mandato. Tudo ao vivo, diante das câmeras e de atônitos repórteres. Pois é.
Acompanhei tudo na ESPN Brasil, que é o melhor e único canal de esportes do Brasil que trata o esporte com qualidade e excelência. Os jornalistas, João Carlos Albuquerque, Arnaldo Ribeiro e o ótimo Mauro Cézar Pereira (como esse cara é bom! Fera, mesmo!!) se diziam perplexos diante de tamanho descontrole por parte dos dirigentes do Botafogo, sem conseguir entender o porquê daquela reação. Bem; Acho que um fato que aconteceu comigo há uns anos atrás talvez possa ajuda-los...
No ano da graça de 1989 eu era um garoto que não tava nem aí para os Beatles... Já os Stones era minha religião.
Fora isso, outras paixões me acometiam. Com 18 anos eu conhecia as minhas primeiras linhas do Knut Hansun, devorava Henri Miller, fazia o diabo pra comprar uns filmes do Truffaut e para manter meu namorinho com a Flavia. E tinha uma coisa que a irritava profundamente, entre todas as bobagens que eu fazia; O Palmeiras...
Fora isso, outras paixões me acometiam. Com 18 anos eu conhecia as minhas primeiras linhas do Knut Hansun, devorava Henri Miller, fazia o diabo pra comprar uns filmes do Truffaut e para manter meu namorinho com a Flavia. E tinha uma coisa que a irritava profundamente, entre todas as bobagens que eu fazia; O Palmeiras...
Naquele ano, meu Palmeiras gastou um dinheirão, montou um time e tinha tudo para sair da fila de 13 anos sem títulos mas, no meio do caminho apareceu um tal Bragantino, com Zé galo, outro tal de Zé Rubens, e outros “Zes” e já era... 3x0 para os caras em Bragança e uma profunda depressão tomou conta de mim.
Lembro do dia que ela chegou na minha casa após o jogo e ao me ver, comentou:
“Mas como? Isso não é normal! É só um jogo...”
Fiquei maluco!
“Como é que é?! “Só um jogo...” Olha meu estado! Caramba, olha como eu estou! Você namora comigo, me conhece e tem a coragem de dizer que isso é por causa de “Só um jogo”. Será possível que você não consegue entender o sentimento que tem em tudo isso?! Que raio de sensibilidade é essa que você diz que tem?!?!”
Bem; O resumo disso tudo foi uma briga homérica, uma discussão estúpida e a culpa disso tudo, com certeza foi do Bragantino!Depois daquele sábado fiquei meio perdido.
Lembro do dia que ela chegou na minha casa após o jogo e ao me ver, comentou:
“Mas como? Isso não é normal! É só um jogo...”
Fiquei maluco!
“Como é que é?! “Só um jogo...” Olha meu estado! Caramba, olha como eu estou! Você namora comigo, me conhece e tem a coragem de dizer que isso é por causa de “Só um jogo”. Será possível que você não consegue entender o sentimento que tem em tudo isso?! Que raio de sensibilidade é essa que você diz que tem?!?!”
Bem; O resumo disso tudo foi uma briga homérica, uma discussão estúpida e a culpa disso tudo, com certeza foi do Bragantino!Depois daquele sábado fiquei meio perdido.
Não saí, não enchi mais a cara, não queria saber de coisa nenhuma. Até um domingo em que vi João Saldanha na Tv Manchete, no Programa TOQUE DE BOLA, travar uma discussão antológica com Zagallo, após uma derrota do Botafogo.
Enquanto Zagallo tentava analisar taticamente a derrota, Saldanha, alucinado, emocionado, apaixonado, gritava a plenos pulmões que faltava “vergonha na cara para esse time! Se continuar assim, seguirá mais 40 anos na fila”.
Descobri que o fogão estava vivendo o mesmo drama. Naquele momento virei Botafoguense roxo. Comprei um jornal carioca pra saber mais e aí, também descobri que o Arsenal também padecia do mesmo mal há 18 anos na Inglaterra e para sair da fila deles lá, teriam que vencer o poderoso Liverpool num confronto direto em Anfield Road, casa dos Reds.
O empate dava o título ao Liverpool. O jogo passaria na tv globo e eu tava colado na tv, se não em engano sábado de manhã.O Liverpool tinha uma máquina de jogar futebol; Lineker, Ian Rush, Kennedy, Brian Robson... Nada na face da terra parecia poder fazer frente a esses jogadores. Ainda mais na eminência da conquista de um título em seus domínios. O lendário estádio Anfield Road.
Começou o jogo; Duro, travado, amarrado. Primeiro tempo, 0x0. No segundo tempo, para complicar com tudo, aos 34 minutos, Gary Lineker marcou 1x0 para o Liverpool. Festa em anfield. A poderosa camisa do Liverpool começava a fazer mais uma vítima e assim, escrever mais uma página gloriosa na sua história. Difícil explicar o que senti quando vi aquele gol.
Enquanto Zagallo tentava analisar taticamente a derrota, Saldanha, alucinado, emocionado, apaixonado, gritava a plenos pulmões que faltava “vergonha na cara para esse time! Se continuar assim, seguirá mais 40 anos na fila”.
Descobri que o fogão estava vivendo o mesmo drama. Naquele momento virei Botafoguense roxo. Comprei um jornal carioca pra saber mais e aí, também descobri que o Arsenal também padecia do mesmo mal há 18 anos na Inglaterra e para sair da fila deles lá, teriam que vencer o poderoso Liverpool num confronto direto em Anfield Road, casa dos Reds.
O empate dava o título ao Liverpool. O jogo passaria na tv globo e eu tava colado na tv, se não em engano sábado de manhã.O Liverpool tinha uma máquina de jogar futebol; Lineker, Ian Rush, Kennedy, Brian Robson... Nada na face da terra parecia poder fazer frente a esses jogadores. Ainda mais na eminência da conquista de um título em seus domínios. O lendário estádio Anfield Road.
Começou o jogo; Duro, travado, amarrado. Primeiro tempo, 0x0. No segundo tempo, para complicar com tudo, aos 34 minutos, Gary Lineker marcou 1x0 para o Liverpool. Festa em anfield. A poderosa camisa do Liverpool começava a fazer mais uma vítima e assim, escrever mais uma página gloriosa na sua história. Difícil explicar o que senti quando vi aquele gol.
Pensei nos milhares de torcedores do Arsenal, que como eu, torciam, rezavam, sofriam mesmo com seu time por lá, assim como eu, aqui no Brasil. Que diabo de amor é esse que sentimos, o qual jamais nos livramos, que faz com que a gente se mantenha fiel ao clube, com ele perdendo, judiando, pouco se importando com tudo isso? E quando martelava a mente e os olhos enchiam de água, o Arsenal empatou aos 41 minutos do segundo tempo. Ah me levantei... “Acho que dá..”
Nunca nem fui perto do campo do Arsenal. Mas além de botafoguense, passei a ser um “Gooner”, dos mais malucos. Até vela fui acender.
E eis que aos 44 minutos do segundo tempo, o Arsenal, após um chutão do goleiro, um desvio de cabeça no meio campo e uma sobra na cabeça da grande área no pé do questionadissímo, Andy Smith garantem o 2x1.
Silêncio que precede o grito. Mantive-me paralisado por uns 20 segundos e quando explodi, gritei:
“GOOOOOLLLLLLL!!!!!!!!!!!!!!”
Pulei, gritei, dei cambalhotas... Eu nunca tinha visto sequer um jogo do Arsenal e saí em frente de minha casa gritando “É campeão”, feito um doido. Dona Dita fuxiquenta, comentou:“
"Ta vendo? Fica lendo esses livros de maluco olha lá no que deu...”
E eis que aos 44 minutos do segundo tempo, o Arsenal, após um chutão do goleiro, um desvio de cabeça no meio campo e uma sobra na cabeça da grande área no pé do questionadissímo, Andy Smith garantem o 2x1.
Silêncio que precede o grito. Mantive-me paralisado por uns 20 segundos e quando explodi, gritei:
“GOOOOOLLLLLLL!!!!!!!!!!!!!!”
Pulei, gritei, dei cambalhotas... Eu nunca tinha visto sequer um jogo do Arsenal e saí em frente de minha casa gritando “É campeão”, feito um doido. Dona Dita fuxiquenta, comentou:“
"Ta vendo? Fica lendo esses livros de maluco olha lá no que deu...”
Um tempo depois, voltei à rua para comemorar com o mesmo entusiasmo o gol do Mauricio, no 2x1 que tirou o Botafogo da fila. Novamente ninguém entendeu e quer saber? Não entenderão mesmo. Tem coisas no futebol que não precisam ser “entendidas”. Às vezes, basta sentir. E isso dispensa a pura e simples compreensão dos fatos inexoráveis.
Naquele ano, me uni na miséria, com dois outros clubes que passavam pelo mesmo drama que o meu passava. Que tinha por lá, torcedores tão apaixonados como eu, pelo meu Palmeiras, que contavam as moedinhas, para pagar um trem, um lanche na porta do campo, uma cerveja mais o ingresso para torcer pelo seu time.
Isso é paixão. E felizmente, não precisa ser racionalizada.
Como falei, basta sentir que você vai entender. Estranho, quando vem os “críticos especializados” e dizem, “Isso é coisa de torcedor e torcedor sabe como é... Um apaixonado...” Como se isso fosse uma coisa menor. (E que se faça justiça aqui; Não foi esta a abordagem feita ontém pelos jornalistas da ESPN Brasil.)
Isso é paixão. E felizmente, não precisa ser racionalizada.
Como falei, basta sentir que você vai entender. Estranho, quando vem os “críticos especializados” e dizem, “Isso é coisa de torcedor e torcedor sabe como é... Um apaixonado...” Como se isso fosse uma coisa menor. (E que se faça justiça aqui; Não foi esta a abordagem feita ontém pelos jornalistas da ESPN Brasil.)
Fico pensando; “Deve ser muito chata a vida desses caras. Como podem viver sem paixão?” Se para eles, isso é um detalhe irrelevante no futebol fico bastante preocupado.
Chegará o dia em que os Estádios não terão mais arquibancadas que serão trocadas por salas de ar condicionado e o gramado por um tabuleiro, onde dois técnicos PHD em futebol, disputarão as partidas como num jogo de xadrez.
Chegará o dia em que os Estádios não terão mais arquibancadas que serão trocadas por salas de ar condicionado e o gramado por um tabuleiro, onde dois técnicos PHD em futebol, disputarão as partidas como num jogo de xadrez.
Mas tomem cuidado:Ao invés do Rei, o xeque-mate será dado no torcedor, que nada mais é que um apaixonado...
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