Um certo Elano...




Quem acompanha esse blog sabe o que penso sobre jogadores "voluntariosos".


Tenho pouca paciência com aqueles que para falar com a bola precisam mandar ofício, que sofrem para dar um passe de mais de 5 metros que não seja numa reta. Detesto jogador tacanho que se impõe em campo não pelo talento mas sim, pelo tamanho do bíceps... Também não sou muito chegado nesse negócio de "raça", porque creio que não seja algo fundamental para jogar futebol. Do contrário bastaria formar uma equipe com 11 rotvailler's e estes, não perderiam nunca! O meu personagem deste sábado não faz parte necessariamente desse grupo. Mas a sua função em campo, muitas vezes o coloca em contato com tal estirpe bretonica:


Elano...


Elano é um bom jogador. Dedicado, taticamente obediente, boa técnica e muita disciplina em campo. O acompanho ha tempos, desde o Guarani, muito mais no Santos, onde fez em 2002 um campeonato nacional irrepreensível. Ao lado de Robinho, Diego, Renato, Alberto, foi ótimo coadjuvante daquela equipe de garotos que encantou o Brasil ao conquistar o campeonato Nacional. Teve ótima participação e deu sequência no Santos, conseguindo em 2003 os vices do Nacional e da Libertadores daquele ano e em 2004, o bi Brasileiro. Era um jogador de destaque dentro do cenário interno do futebol brasileiro.


Daí em diante comecei a prestar atenção nas suas atuações e muitas vezes fui critico de seu futebol por acha-lo tecnicamente limitado para as suas novas responsabilidades. Afinal de contas ele deixou de ser coadjuvante para liderar, protagonizar sua equipe como um jogador diferenciado que ele não era, nunca foi e talvez nunca será. Vestia a camisa 10 do Santos, com a mesma mentalidade que tinha quando era o "segundo volante do Guarani" e essa falta de consciência de real grandeza me dava nos nervos. Na seleção então era pior...


Não consigo descrever o tamanho da irritação ao ver Afonso, Julio Batista, Wagner Love, usando as camisas que um dia foram de Mazola, Ademir, Zizinho, Sócrates, dando carrinhos e fazendo tudo que o "professor dunga" pedia. Jogador de futebol sem personalidade... É mais ou menos como aquela noiva virgem dos anos 30 que casava com a filha do coronel do amigo de fazenda do pai, morrendo de amores pelo caseiro da família. Um horror. Eu via o Elano como parte desse grupo. O critiquei horrores, fiquei puto e tinha pouca benevolência com o rapaz. Mas após assistir o programa JUCA ENTREVISTA DA ESPN... bom...


Elano foi lá falar de suas experiências pela Ucrania onde atuou por três temporadas. Durante o programa falou de preconceitos sofridos no dia a dia, da péssima relação com o técnico de lá e principalmente, de seu enorme poder de superação e força. Passou o diabo, sofreu e explicou porque aguentou tudo.


Contou que certa vez, após jogar uma partida muito mal pelo Guarani, pensou em largar tudo. Naquele dia, disse que acordou meio-dia se deparou com o seu velho pai, chegando da roça de cana de açúcar, todo sujo de barro, numa caminhonete velha, feliz da vida ao vê-lo, perguntado do jogo. Naquele instante ele disse que teria a certeza que nada mais ia segura-lo e que seria um vencedor na vida. Quando o técnico do Shaktar da Ucrânia o colocava no banco, antes dele se abalar, sempre se lembrou disso. Aprendeu com o velho bóia fria, no corte da cana, tudo que carrega consigo até hoje.


Falou que joga pela sua família, para não deixar mais seu pai pegar no facão, para dar um conforto maior pra mãezinha, para criar sua filha com tudo que ele não teve, para melhor amar sua mulher. Contou do amigo angolano que tinha duas calças jeans e que o ajudava de graça no periodo em que esteve lá na Ucrânia. Mesmo assim o angolano não queria receber grana e isso o cortava o coração. Fez por onde ajudar o amigo que hoje vive bem por sua conta e lhe é eternamente grato. Do caminhão de cestas básicas que distribuiu ao povo pobre de Donestick e de seu clube que o proibiu de fazer isso. Da enorme alegria que teve ao ir para o Manchester na Inglaterra e da vida ótima que tem graças a seu trabalho e as pessoas que o cercam.


Caramba...


Penso comigo; Diante disso tudo, o que é uma porra de um passe errado? Um título perdido? uma partida mal jogada? Porque essa sanha assassina que temos, em contaminar o futebol de pragmatismo e de tudo aquilo que mais condenamos em nossas vidas fudido-lúdicas que prezamos? Porque descarregar essa força bruta no esporte?


Nesse sábado, Elano me deu uma baita lição de vida que com certeza não aprenderei em livro nenhum, em nenhum esmerado solo de sax, que rock and roll nenhum, vai tocar. Eu não vou dizer que passo a acha-lo um craque. Tem que aprender a se posicionar melhor em campo e parar de ter medo de errar né rapaz? Mas de fato, passo a ser fã de um homem que este sim, brasileiro nato, encara tudo e todos para viver melhor e ajudar os seus a sorrirem um cadinho. Por tudo isso, vos afirmo...


Elano passa a ser meu herói, tanto quanto João do Valle

Comentários

Anônimo disse…
Elano é meu herói também!!
Parabéns, Má... Lindo texto!

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