O ULTIMO BLUES DO MENINO BASCO E O DIA QUE A CATALUNHA CHOROU...

Impressionante.

Passando pelo CANELA DE FERRO não consigo entender porque deixei de rabiscar minhas linhas aqui neste espaço bretão ao longo de 2009. Estranho...

Não deixei de ler os impecáveis textos de Tostão, meu amigo Xico Sá, Fernando Calazans, Paulo Vinicius Coelho e o mordaz e ótimo Mauro Cezar Pereira. Cheguei a ter alguma alegria com meu Palmeiras cujo desempenho de 19 rodadas na ponta do campeonato me encheu de esperanças. Pobre vida essa nossa de torcedor.

Após a nossa derrocada técnica, moral e a broxante perda do titulo de 2009, no fatídico jogo contra o Botafogo na ultima rodada, foi tudo muito triste. Senti uma impotência impar. Sequer tive raiva dos inoperantes Vagner, Wendell, Sandro Silva e que tais. Uma inutilidade plena.

Aquele time sem alma, sem coração, sem nenhum outro comprometimento que não seja a "consciência profissional" acabou comigo. As 18h25min horas do domingo então eu era um farrapo, roído e parco por uma paixão que me toma a vida de assalto. Lembrei-me então de grandes frustrações minhas. Em época de copa portanto, para marcar minha volta as linhas desse humilde blog, falarei deste que foi talvez o dia em mais fiquei triste na minha vida.

Era dia 5 de julho de 1982, segunda feira. Aproximadamente umas 10h30min da manhã. Eu, Lidu, Luciano e Jadão nos encontramos na viela que dava passagem da rua tanger nossa, até a Rua Cremona. Reuníamos-nos ali em função do Carlão, cuja casa dava de fundos com a tal viela. Um quintal enorme com estes que hoje já não existe mais. Era um ritual.

Jogávamos no mirim do Nacional E.C do parque novo oratório no domingo. No dia não falávamos nada: Corríamos pras nossas casas, comer o rango da mãe e esperar pra ouvir o Osmar Santos narrar nossos times. Aí só na segunda feira, nos encontrávamos pra discutir nosso desempenho dominical e a rodada do final de semana. Mas aquele dia era especial...

O Brasil estava em plena copa e nosso antológico time, jogaria contra Itália. Mera conveniência.

Para nós, era uma questão de tempo para nosso time dar um show, meter os italianos toscos na roda e aí sim; Preocupar-se com a Polônia de Lato, Bonieck, Zmuda e Xamaqui, para depois fazer a final do século com a França que do meio pra frente, tinha o melhor time que já vi daquele país:

Fernandez, Ti gana, Giresse, Platini, Rocheatheu e Alan Six. TIMAÇO!!

E nem assim seria pário para o nosso:

VALDIR PERES, LEANDRO, OSCAR, LUIZINHO E JUNIOR/ CEREZO, FALCÃO, SOCRATES E ZICO/ SERGINHO E EDER....

Não vi uma seleção em meus 38 anos de vida que chegasse perto desta. Como esses 11 caras me fizeram feliz. Falávamos:

O Zico arrebentou com o Maradona - Disse eu:

É... Time bichado aquele. Só ganharam a copa roubado disse o Jadão.

E era pra gente ser muito melhor ainda do que já somos. Mas o Telê é um burro que não levou o Reinaldo! - Reclamou Luciano, nosso habilidoso ponta direita.

Ah meu... Mas o Chulapa ta bem vai... - Retruquei.

É... mas craque é o Reinaldo - Insistiu Luciano.

AE NEGADA: JA SÃO 11 HORAS! - Berrou Carlão.

Abandonamos a vida e corremos para assistir o jogo na sua casa, numa tv

Phiplips, colorida, controle remoto, zerinha!Bem...

Eu não vou escrever maisssssssssssss uma vez o que aconteceu, porque eu simplesmente me recuso a sofrer tudo aquilo novamente. Digo que a Itália de um futebol burro, violento, burocrático e mecânico nos venceram de 3x2 e eu chorei feito menino. Como só os meninos podem chorar. Paolo Rossi não tem idéia do mal que causou!

Para me acalmar, lembro que chamaram meu Tio Sebá, musico, trombonista de gafieira dos baú... Sentou e começou a me contar histórias de um futebol brasileiro de passado glorioso. Falamos por umas 3 horas. Voltei a sentir esperança e parei de chorar mas não sorri. O sorriso de menino jamais voltou para a seleção brasileira.

Torci.

Vi o nosso herói, palestrino adotado por nossos corações, Luiz Felipe Scolari vencer um copa na ásia. Bem melhor que o tetra que não me moveu um músculo da face.

A seleção do Felipão, tinha gente do povo. Tinha Jardim Irene e Taquaritinga mas...

Eu já era um burro velho de 32 anos. O menino não foi campeão do mundo. O homem, foi mas tava de saco cheio. E ano que vem tem mais....

Copa do Mundo.

Uma Feira de Futebol onde são apresentadas as novas tendências de mercado.

Tem armani desenhando uniforme da seleção italiana, tem chuteira azul, vermelha, laranja, branca, rosa de bolinha amarela... o diabo!

Teve Weggis!

Em 2006, a CBF vendeu a seleção tal qual um quilo de picanha! Foi um absurdo! Nas ruas era pagode, axé e o diabo, apresentados como "manifestação cultural brasileira". Enquanto isso, Rosa Passos, suas musicas lindas e seu violão afiado tocava em um aprazível bar de hotel, longe da histeria e do reconhecimento. Pois é...

Dentre as novas tendências tem os técnicos...

Estes apresentam seus esquemas canalhas de anti jogo. O que vence passa a ditar a nova ordem bretonica do futebol mundial. E o espírito da coisa, o jogo, a conquista, o esporte, a cultura do país que deveria se apresentar na forma de sua seleção se apresentar, as favas!

Não. O Menino Marcelo não existe mais.

Há hoje um homem, próximo de seus 40 anos, apaixonado, bem amado, feliz com quase tudo e revoltado, justamente por não poder ser feliz justamente naquilo que outrora era o mais importante de sua vida.

Agora sou um homem "que pensa".

Intelectual, racional, cheio de cultura e pobre de prazer em seu esporte predileto. Será que um dia, uma vezinha só, vou poder chorar com a alegria que chorei em 1982? Ou será que em tempos modernos tenho que explicar o que é "chorar com alegria"??

Não, não vou explicar.

Que pensem o que quiserem. Dessas linhas, ao menos saio feliz.

Agora eu já sei porque não quis escrever absolutamente mais nada sobre o tema futebol em 2009. Mas a gente insiste. Sou como Eduardo Galeano que já se intitulou "um mendigo do futebol clamando por uma caneta, uma firula."E nesse momento o comentarista do canal por assinatura diz que Balotelli da Inter De Milão é um "ótimo jogador".

Saudades do Paolo Rossi...