A VALSA DO MENINO VERDE E MAIS UMA HISTÓRIA DE AMOR...


Houve uma vez a década de 70...


Uma época em que as pessoas não podiam se expressar, não se tinha direitos individuais e aqueles que “ousavam” lutar contra isso, eram duramente reprimidos, com torturas, espancamentos, assasinatos e afins. Nesse cenário, havia um menino.


Um menino muito bem criado, amado e feliz no seu bairro em meio a sua gente. Pouco reclamava, embora motivos para isso não lhes faltasse. O menino, diferente da maioria dos amigos, não tinha o pai por perto. O velho dele, era um daqueles que decidiram lutar contra a tirania reinante, da forma como podia e tornou-se líder sindical quando isso não tinha nenhum glamour. A consequencia foi sua saída de casa. Mas o Pai era corajoso e logo deu um jeito de ver o menino...


Numa ação muito bem elaborada, uma vez por mês, um carro vinha até o bairro no menino, que ficava em frente ao mercado do seu Toyoda e então embarcava. Cada mês era um carro diferente. Esse tal carro o levava até o Estádio Palestra Itália, onde o Palmeiras com Dudu, Ademir Da Guia, Edu, Leivinha, César e Ney dava verdadeiros espetáculos de futebol. Alí, o menino encontrava o Pai. E para o menino tudo era a festa.


Por medidas de segurança, o Pai tinha que vir disfarçado, com um bigode, ou óculos, ou careca, ou cabeludo... O menino vibrava! Achava na candura de seus 5, 6 anos de idade que o pai era uma espécie de “Agente Secreto”, como aqueles que tinham no cinema. Era a forma que esse menino encontrava, para não pensar que no mês seguinte, poderia não ver mais o seu Pai. E o time de futebol ajudava...


Vendo então os passes de um louro, camisa 10, elegantissimo, o menino se encantava, tinha contato com a sua primeira forma de arte; Os passos daquele homem de camisa 10, era o o primeiro e mais belo dos balés da vida do menino. Tudo era alegria e então não tinha como o menino não amar aquele time. Primeiro porque o futebol deles era lindo; Segundo, porque era o único lugar onde permitiam que o menino, encontrasse seu pai. Durante 90 minutos, pai e filho tinham portanto o contato, a relação que, conviccção politica, economica, social, sexual, religiosa nenhuma jamais poderia impedir! Os homens daquela época não entendiam isso. O tempo passou...


O menino cresceu e seu pai voltou para casa. Que alegria na vida do menino! O pai em casa, ensinou a ler os bons livros, ouvir os bons discos e beijar as mais belas bocas. Foi um período bom, abreviado por circunstancias que fogem ao desejo dos mortais. Em 1997, o pai do menino morreu. No dia, o rapaz que fôra menino, chorou muito. Após o enterro foi ao Palestra Itália e, vendo o seu time golear o Grémio por 5x0, sentiu um pouquinho menos triste. Chorou. Chorou num misto de alegria e tristeza mas, estava bem. O Palestra Itália era sua casa. O Palmeiras era muito mais que um clube de futebol.


Sabia que jamais acabaria esse amor entre ele e o clube de palestra itália. E assim foi no decorrer dos anos todos. Pelo Palmeiras o menino riu, chorou, xingou, amou, odiou, viveu a plenitude da existência portanto. Entendeu que isso faz parte não só do esporte mas da vida. E hoje é feliz.


Então chegou o dia 26/08/2010. O menino tem agora 38 anos. Naquela semana, correu com a mãe no médico, se preocupou e pensou que nesse dia, quando seu clube completou 96 anos de existência, talvez pudesse ter um pouquinho de alegria, afinal enfrentariam os lanternas do campeonato. Mas o time perdeu...


O Palmeiras sofreu um vexatório 3x0 e o menino ficou triste. Mas passou. Entendia que nada, absolutamente nada, por mais que quisesse e tentasse como tentou em seus momentos de fúria... Nada abrandaria o amor que sentia pelo clube de coração. Porque isso, era um sentimento de menino, amor de menino que as intempéries da vida não conseguiam abalar. Ficou triste sim. Nesse dia não quis beber com os amigos. Preferiu ficar em casa e abrir uma caixa velha, onde guardava alguns pertences pessoais. Retirou um ingresso e leu a data:


PALMEIRAS x XV DE PIRACICABA 1976. Ao lado, uma velha foto com o pai já amarelada do tempo e muita emoção. Sentindo o peito transbordando dessa mesma emoção, decidiu não ver os gols sofridos pelo time, no noticiário esportivo. Ligou o aparelho de som, ouviu Baby Huey cantar e falou alto, olhando para o ingresso e a foto:


Palmeiras, eu te amo...

Comentários

Camila Van Der Kerkof disse…
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Lindo, Lelo! Lindo mesmo...

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