SOBRE CARAVAGGIO, CORINTHIANS E O FUTEBOL; O ESTADO ONÍRICO DAS PAIXÕES LUDOPÉDICAS E UM BLUES NA QUARTA FEIRA DOS AMANTES INSÓLITOS....
Uma vez me
perguntaram porque diacho eu tanto gostava do Caravaggio, e da sua
pintura Morte da Virgem que vi a primeira vez na vida
com 14 anos e em foto.
Oras... Não
sei quase nada de Artes Plasticas e também não saberia explicar o
porque da relação que tem os meus sentimentos como pintor italiano,
boemio, mulherengo e genial. Mas talvez a razão da coisa esteja
justamente ae nesse interím...
Paixão...
Paixão não se explica.
Do contrário
não pode ser considerada uma paixão. Talvez seja exatamente essa, a
minha relação com o futebol. A pureza do estado não linear, do que
há de mais ilógico em um sentimento que o aproxima portanto de uma
paixão, talvez seja o mais perto que pode haver na relação de uma
pessoa com o encanto por esse esporte. E na ultima quarta-feira tudo
isso chegou a enésima potencia.
No pacaembu
jogaram Corithians x Vasco pelas quartas de final da Libertadores da
América. O amigo leitor que me acompanha sabe do que tenho dito aqui
sobre as peculiaridades dessa competição. No aspecto esportivo nada
representa melhor a sulamérica do que essa competição. Os motivos
venho falando aqui há tempos; Nosso jeito latino de ser, nossa
poesia, nossa pele escura, nosso tango, nosso samba, nossa cultura
inca, maia, indigena... Tudo entra em campo quando começa o torneio.
Uma coisa linda e intensa que vem a tona da maneira mais bela que
pode haver. O jogo que vi na ultima quarta foi assim...
Tecnicamente
uma coisa ruim de ver. Mas ae que tá; A parte tecnica do jogo de
futebol é apenas um aspecto da coisa e por isso tanto a
Libertadores, quanto o futebol são divinos. Assim como a vida, o
futebol precisa ser vivido plenamente. Não só de beleza e encanto
mas também com sangue e corte; Não só com tecnica e plastica mas,
com força, fúria e paixão. Intensidade...
Corinthians e
Vasco estraram em campo para isso. Para correr atras de uma bola tal
e qual um esfomeado corre atras de uma coxa de frango. Desejaram o
gol, tanto quanto um menino virgem deseja seu primeiro beijo na
boca. Quiseram ter a bola para si, da mesma forma com que o sujeito
apeixonado quer sua amada por perto sem fazer a menor concessão.
Porque em uma paixão nada se divide; É tudo o tempo todo, é
intenso o tempo todo. Mediante a esses aspectos a parte técnica mais
aprimorada torna-se uma pequena parte da fração. Havia muito mais
em jogo...
Durante
aqueles 90 minutos de transe total, pouco se importou o fato de as
equipes entrarem de maneira muito recuada, muito prudente,
preocupadas primeiro em não tomar um gol para depois pensar em
faze-lo. Isso era a idéia inicial. O Vasco escalado com Éder Luiz
para ser a bola de contra-ataque, com Alessandro trombando com Chicão
e Castam e Juninho tentando organizar minamente o time de São
Januário. O Corinthians por sua vez não é nem de longe um primor
de time de futebol. Mas da maneira que pode, ataca. Ataca
incessantemente. Essa foi a tônica do jogo e quem teve a sorte de
estar no Pacaembu como esse escriba que vos conta a coisa, viu como
tudo isso foi entendido por quem ali torcia por suas equipes.
Nos rostos
que habitaram as sagradas arquibancadas daquela noite de outono se
via de tudo; Paixão, emoção, nervosismo... Em cada boca se rezava
uma oração, em cada passe errado se fazia um vilão, em cada acerto
minimo uma esperança, um sonho, um desejo de ser feliz por essa
gente que pode até não entender como eu, o porque de gostar tanto
do esporte mas, assim como eu sente... Sente isso pra valer e por
isso é tão recompensado por esse esporte. E quarta feira eu fui...
Aos 45
minutos do segundo tempo, após uma cobrança de escanteio, Paulinho
meteu a cabeça para fazer 1x0. Por alguns instantes, segundos, o
silencio quis imperar e até conseguiu. Em uma pausa, num breve
instante em que a bola viajou da marca de escanteio até a cabeça de
Paulinho, poderia se ouvir o vibrafone de Milt Jackson começando a
introdução de Stela By Starlight. Olhos atentos acompanharam
a viagem daquela bola até encontrar a cabeça do volante corintiano
para quebrar a barreira do silencio com o barulho das redes de
Fernando Prass. Catarse!!!
O que meus
olhos viram após essa cabeçada, jamais minha mente vai esquecer.
Homens maduros, inteligentes, cartesianos, dotados de formação ou
não, pobre e ricos, pretos e brancos, amarelos, judeus, arábes,
palestinos e ucranianos que fossem, todos... Se abraçando, chorando
como meninos, felizes, um total estado de ecstasy varreu o Paulo
Machado de Carvalho após o gol do Corinthians. E ae vos digo...
Nessa hora
pouco importa o time que voce torce. Claro que seria melhor ver isso
tudo com meu Palmeiras mas, nessa hora o futebol é quem vence, o
esporte e quem gosta dele é quem saem vitoriosos. E ae é muito
simples:
Futebol é
como a vida caro leitor. Não é justo, não é previsivel, não vem
com fórmula pronta e tal e qual a vida, precisa ser vivido, sentido
em sua plenitude. O Corinthians esta nas semifinais da Libertadores
da América porque finalmente entendeu a necessidade se viver esse
torneio assim, nessa plenitude. E também não quer dizer que essa
premissa minha aqui seja definitiva. Essa coisa maravilhosa que é o
futebol não faria essa concessão a esse réles cronista ludopédico.
Ele é muito maior que eu e que bom que é assim. E aos que não
conseguem sentir isso que eu e mais outros tantos milhões de pessoas
que gostam desse esporte sentem, fica uma sugestão minha:
Comprem um
genuflexório e chupem um chicabom...
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