UMA NOITE EM 1977 E A AMÉRICA DO SUL PRETA E BRANCA; PARABÉNS LIBERTADORES DA AMÉRICA, FINALMENTE VOCÊ FAZ PARTE DA HISTÓRIA DO CORINTHIANS!
Quinta
feira 13 de outubro de 1977...
Das
minhas lembranças de menino palmeirense, aquele dia me vem à mente
como uma grande festa. Na cabeça de criança de 7 anos, quase uma
pontinha de inveja. Era o dia em que toda São Paulo esperava ávida,
por uma vontade louca de fazer festa.
Eu
já morava na Rua Tanger. Meus tios corinthianos todos, ficaram do
velho endereço da Avenida Das Nações nº 50. Naquela época, uma
rua ainda sem asfalto, com as margens do córrego que divide as
pistas, todas abertas, um tempo de pobreza no Parque Novo Oratório.
Como naquele dia as aulas do Felipe Ricci De Camargo onde eu estudava
foram suspensas, eu fui até a casa de meus tios.
“Que
time é esse que faz com que as aulas sejam suspensas?!”
Chegando
por lá encontrei Tia Lú e meu primo Serginho com a veha bola de
capotão debaixo do braço. Ele vestia uma camisa listrada preta e
branca numero 8. Premonição! E de cara veio me falando:
“Hoje
eu vo ser campeão! Ce vai ver!!”
Nada
respondi. No íntimo, quase que desejei um belo e solidário “Tomara,
primo” a ele. Mas meu espirito palestrino me fez conter aquele
sentimento que é nobre pra vida mas, em termos de Palmeiras x
Corinthians, idiossincraticamente precisa ser controlado para o bem
do futebol. Segui; O velho terreno tinha tres casas. Das tias Lu, de
Tia Gel e de Tia Leíta nos fundos. Na casa de Tia Gel onde entrei,
vi as comidas da noite sendo preparadas, vi as bandeiras do
Corinthians, e um enorme e lindo São Jorge cheio de velas, bandeiras
e ornamentos. Perguntei pra meu Tio Bida:
“E
como o senhor sabe que o Santo é Corinthiano?”
“Meu
sobrinho, ser Corinthiano é um acerto, um estado de espirito que
tenho certeza que São Jorge não vai querer abrir mão”
“Hunf”
- Respondi.
Lembro
que naquela quinta feira, a impressão que eu tinha era de que
chegaria o ano 2000 e não chegaria as 21:00h. O Jogo não chegava! E
quando chegou foi uma catarse. Teve choro, teve esperança e teve uma
alegria na hora do Gol do Basilio que jamais eu vou conseguir
explicar e definir aqui. A minha lembrança daquele momento é do meu
primo Serginho no final do jogo, em meio a gritos, buzinas e rojões
correndo em minha direção, com os olhos cheios de água e sua velha
camisa 8, correndo em minha direção e pulando em cima de mim,
berrando:
“Sou
campeão primo... Sou campeão, porra!!”
Guardei
isso. Pra toda minha vida, pra todo sofrimento que tive com meu time
de futebol, para toda vez que a animosidade ousou me atentar para
assuntos ludopédicos, lembrava sempre da alegria do meu primo
naquela madrugada de 1977. Sempre tive para mim que atrás de uma
pseudo-tristeza que eu pudesse vir a sentir, havia um menino feliz da
vida como o meu primo foi naquela noite de 1977. O tempo passou.
Cresci,
me beijaram a boca, me tornei poeta, me tornei escritor, me tornei
jornalista, me tornei talvez algo muito menos nobre do que o Menino
que eu fui em 1977. Mas segui na minha luta por alegria. Aos 40 anos
de idade, me peguei pensando nisso tudo enquanto caminhava para a
cabine de onde eu trabalharia no jogo entre Corinthians x Boca
Juniors. Olhei para o Pacaembu e respirei fundo.
Novamente
eu vi homens, vi mulheres, vi crianças emocionados. Vi alegria, vi
verdade, ansiedade, esperança e honestidade no que há de mais puro
na paixão. Para onde se olhava no pacaembu naquela quarta-feira dia
04 de julho de 2012, se sentia a vontade de toda uma gente de viver
um sonho. De se festejar. Naquele momento um menino de seus 10 anos
vinha andando com seu pai pelas tribunas e ao me ver de crachá,
fone de ouvido e tudo mandou um;
“Vai
Corinthians!!!!!!”
Sorri
e por um instante daquele dia pensei; Hoje não sou mais menino?
Será? Não sei. Talvez eu seja um menino de 40 anos que não desiste
de buscar encanto, poesia, alegria e beleza nas coisas da vida e do
futebol. Porque um esporte só pode se perpetuar assim, dessa forma.
Quem viveu o que eu vivi jogando, torcendo e trabalhando com esse
esporte mágico vai entender isso que sinto.
Vai
sacar porque não fiquei triste quando o arbitro apitou o término
daquele jogo em que o Corinthians meteu 2x0 no Boca e sagrou-se
campeão da América. Vi toda aquela gente chorando de alegria,
pensei em quanta gente estava por ae fazendo festa. Desliguei tudo e
caminhei pelo corredor do velho Pacaembu e o menino que eu tinha
visto quando cheguei, estava voltando com seu pai feliz da vida. Ao
me ver ele soltou da mão do pai e correu até minha direção,
pulando em meu colo e me abraçando.
“O
Corinthians foi, tio!!!!!!!” - Me gritou no ouvido enquanto
o pai sorrindo, veio resgatar o filho.
Sorri
também. Nessa hora, quase as 3 da matina decidi fazer uma ligação
para o inteiror de São Paulo. Arrisquei. Então do outro lado um
cara, em meio a um barulhão danado, meio bebado me atendeu e gritou
a frase que eu queria ouvir:
“Sou
Campeão Primo... SOU CAMPEÃO, PORRA!!!”
Falamos
por uns 5 minutos, marquei de ir lá no aniversário do filho dele,
me despedi. Ao desligar o fone, olhei para a Arquibancada do Pacaembu
e falei:
“Que
bom que inventaram você, Futebol”
Ao
me virar pra ir embora, a lágrima mais gostosa do mundo me escorreu
a barba, face afora...
Comentários