DEIXEI MEU CORAÇÃO SANGRAR NA GERAL DO MARACANÃ... E O FOLK DOS CORAÇÕES EM FÚRIA SOB O SOL DE SÃO SEBASTIÃO
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O ano de 1983
foi mágico em minha vida.
Naquele ano o
time de futebol do Nacional do Parque Novo Oratório foi campeão do
DEFI (departamento estadual de futebol infantil) em uma
partida inesquecível; No campo da Rua Javari contra o Juventus, os
moleques do PNO meteram um implacavel 6x0 na final mas dando um baile
de bola mesmo. Eu era o camisa 10 daquele time.
Ae veio o
presente...
Nunca mais
vou esquecer do meu pai chegando em casa com a noticia; “Vou
te levar para ver a final do Campeonato Brasileiro no Maracanã”
- Cara, entrei em transe! Nem me preocupei muito com o fato do jogo
não ser do meu Palmeiras. A final seria entre Flamengo x Santos e ae
entra o Carlinhos...
Era amigão
do meu pai. Da lembrança que tenho dele nos anos 80, sempre me vem a
mente um sujeito cabeludo, todo pinta, usando umas roupas coloridas,
all star no pé, Santista alucinado e dono de um Corcel II, bala!
Pretão, banco de couro e tals, toca fita novinho! Carlinhos seria o
cara que nos levaria para aquela que até então era minha primeira
grande aventura ludopédica; Ir ao Rio De Janeiro para ver uma
partida de futebol. Foi lindo...
Lembro de
enfiar a cara na janela do carro e da sensação gostosa do ventão
na minha cara rasgando a Dutra a caminho do Rio. Um gosto incrivel de
liberdade e alegria que é algo que sempre lembro quando penso em
futebol. No tal toca fita, o Carlinhos ouvia repetidas vezes uma fita
do Bob Dylan e jamais esqueci de Subterraneam Homesick Blues no
talo, entrando pelos meus poros junto com aquele solzão de domingo
lindo, enquanto íamos para o maracanã. Épico!
Na minha
cabeça de menino de 13 anos, aquilo tudo me parecia muito grande. O
mar de gente em vermelho e preto caminhando para o estádio, os
rostos de alegria, de luz, de satisfação de fazer parte daquele
momento, daquela página da história do Futebol Brasileiro... Todas
essas coisas me davam a exata noção da grandeza a qual eu passava a
fazer parte também. Rumamos para onde estava a torcida do Santos.
Ohhhh!!! Éramos então 5000 mil santistas me disse o extasiado
Carlinhos. Achei incrivel! Tinha então uma certa segurança de que
não fariamos vergonha enquanto subiamos aquela enorme rampa de
concreto que nos levaria em nosso local da arquibancada. E quando
chegamos vi que eu e Carlinhos estavamos lindamente enganados...
Em meio as
bandeiras do Santos me senti uma formiguinha. Eramos parte de 165 mil
pessoas. Veja bem; 165 mil pessoas!!!!! Então nossa missão era
torcer contra 160 mil rubronegros. Até tentamos... Tal e qual um
Caruso, um Leslie West, um Barry White, enchi meu peito para com toda
força gritar “Peixeee” em solidariedade aos amigos
Santistas que tão bem me trataram e que a mim, parecia estarem em
tão enorme enrrascada. Naquele momento me arrependi profundamente
porque acordamos então um gigante inteiro:
As 160 mil
vozes, apaixonadas, munidas de um sentimento que só o futebol pode
proipiciar e nem sempre explicar, mandaram lindamente um
MEEEEEEEEEEEEEEEEENNNGOOOOOOOOOOOOOOOO!!!
ensurdecedor,.. Ma fiquei até com vergonha! Na hora da escalação
dos time no placar eletronico eles continuaram; Aplaudiam numero por
numero... 5 – Vitor (EEEEEE!!! Vitor, Vitor, Vitor...) 8 –
Adilio (EEEEEE Adilio, Adilio, Adilio) 9 – Baltazar (EEEEEEE
É Baltazar, É Baltazar...) Ae veio a catarse...
De repente, a
massa rubronegra se levantou do concreto do Gigante. Todo mundo de
pé, bandeiras tremulando, fogos espocando e o placar eletronico
parado, não punha mais nenhum nome. Apenas o numero 10 apareceu no
placar. Ae o 10 piscava e o povão entrava em transe. Então veio,
letra por letra; Z-I-C-O.
!!!!!
O Maraca veio
abaixo! A massa explodiu num coro lindo... “EI, EI EI O
GALINHO É NOSSO REI... ZICOOOOO, ZICOOOOO, ZICOOOOOO” Eu
chorei!!!! Cara eu chorei! De emoção, de alegria de tudo! Senti que
eu tava certo, pensei. “Porra meu ídolo é um deus! Zico é
fodaaaaa!!” Quando veio o jogo, aos 57 segundos o Flamengão
meteu 1x0 gol dele e ae, acho que nem o Carlinhos ficou triste em ver
que o Flamengo seria inevitalmente campeão como foi. O Jogo acabou
3x0 e eu saí dali convicto de que jamais abandonaria aquele esporte.
Se não fosse jogando bola, seria de alguma outra forma mas jamais
deixaria de amar aquele jogo. Nunca mais esqueceria aquele domingo no
Maracanã.
Pois bem.
Passaram-se 29 anos. Muita coisa mudou...
Invetaram uma
tal de globalização, outras nações apareceram, a gente descobriu
que os russos não comem criancinhas, que o Tio Sam não é bonzinho,
que o Rambo não é invencivel e que o futebol não é mais o mesmo.
Apareceu junto com as coisas novas do mundo um tal Ricardo, que por
décadas se aposou do futebol brasileiro, que fez o que quis, e o que
bem entendeu com ele, até quando uma mulher virou presidente do
Brasil, e enxotou o sujeito de lá. Mas o sujeito deixou uma
herança...
A copa do
mundo de futebol, graças ao tal Ricardo será realizada aqui em
2014. Com isso apareceu por aqui a tal da Fifa, cobrando
infraestrutura, exigindo passaporte diplomático para cartola
futeboleiro e querendo estadios novos. Então veio a vitima maior
dessa megalomania toda; O nosso velho Maracanã e uma afamada
reforma, que no começo custaria 700 milhões (O que já seria uma
exorbitancia!) e que hoje, já ultrapassa 1 BILHÃO DE REAIS!
É o estupro mais caro do mundo!! Afinal é isso que estão fazendo
com o velho Maraca. Enfim... O Futebol passa por um processo de
elitização nojento!
Hoje somos o
“País da Copa”...
Por conta
disso, aceita-se todas as cretinices da Fifa. Por causa disso, não
se pega esse 1 Bilhão de Reais para contruir um estadio novo e com
isso deixar o velho Maraca em paz, la quieto, velho e até
desconfortável sim, para quem gosta de futebol de verdade. Não
temos a menor participação de nada! A seleção que outrora foi do
povo hoje é da CBF e joga em New Jersey; Os melhores jogadores vão
para a europa e nosso campeonato passa em uma emissora de televisão
que faz o que quer e bem entende com isso, pensando no esporte apenas
como um produto. E ae chego a conclusão que não daria mesmo pro
velho maraca viver no meio disso tudo.
Em um mundo
onde a beleza atrapalha, onde o encanto não é necessário, onde a
paz é uma “frescura”, onde as pessoas só se permitem
através de redes sociais, onde ao invés de um abraço nêgo te
manda “um torpedo” via celular, pra que diabo se preocupar
com o que um dia regeu o sonho de tanta gente, com algo que tão bem
fez a milhões de pessoas? Pois bem...
Quarta-feira,
16 de maio de 2012, 15:35h da tarde:
Nessa data,
tive um trabalho para fazer, cobrindo a quantas anda as obras do
maracanã para a copa de 2014. Ao entrar vi que a marquise lendária
já não existia mais. Que não haverá mais arquibancada de concreto
para o povão, para nenhum atual menino de 13 anos ter a chance de
sentir o que eu senti em 1983. Me livrei da equipe de trabalho e
desci até onde ficava a geral do Maracanã. Será ali um grande
espaço de cadeiras nobres e caras. Um filme passou na minha cabeça:
Pensei no
Carlinhos, que hoje mora em Curitiba e poucas vezes o vi desde então.
Lembrei daquele corcel II bonitão, do som do Dylan, do vento da
minha cara. Naquela manhã chuvosa de 2012 ele não soprou. Meu velho
pai? Não, Seu Mauro não ta mais aqui conosco, foi descansar desse
mundo “novo” em 1997. Respirei fundo e sentia uma lágrima
escorrendo pela minha barba ali no meio daquelas obras. Nessa hora,
dei as costas e fui-me embora.
Deixei ali
meu coração de menino sangrando na geral do velho Maracanã...
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