SHAKESPEARE ENTRE OS BRETONICOS TUPINIQUINS...
Segunda pós-futebol; Deveria ser um dia cheio, com milhares de assuntos, para o cronista escolher o que lhe convir. Mas como num rompante mágico, eis que o Botafogo surge novamente me tomando de assalto...
Conversei com amigos e tomei uma medida preventiva; Não Persigo o Alvi Negro de Marechal Hermes mas caramba... o Botafogo procura a resenha. Andei pensando, só para ficar na esfera Sheakspereana se por acaso o glorioso Fogão não sofre de “Síndrome de Iago” ou coisa que o valha. Porque caramba... O time danado para sofrer. Após mais um capítulo de sua saga na quarta feira, protagonizado por Zé Carlos, ontem foi o tosco zagueiro André Luiz que veio à tona. Mas que coisa...
O time apanhava feio do Náutico em Pernambuco e eis que ao término do primeiro tempo, o Zagueiro que é chegado em tomar uns dribles circenses em jogos decisivos, resolve mostrar a língua, o dedo, a bunda, sei lá o que, para a torcida Pernambucana. Tal qual os patrulheiros do Reagan, na Califórnia dos anos 60, a policia de Pernambuco se mete na peleja, e decide então fazer justiça; O zagueiro que ora era apenas um grosso de bola, é detido tal qual Chico Picadinho, ou Charles Manson e com uma chave de braço é levado para o DP local. Um absurdo!
Claro que o idiota não tem que ficar brigando com torcedor. Deveria se preocupar em marcar seus algozes pra não ficar de bunda no chão como ficou na quarta com o Herreira. Mas entendo que o assunto deveria ficar na esfera esportiva e a policia do estado tem milhares de outras coisas para fazer. Claro; Prender quem prostitui crianças em Boa Viagem, não da espaço na mídia. Prendam o zagueiro portanto...
NA VILA:
Saca aqueles jogos que tem tudo para descambar para o que há de mais fúnebre e soturno no mundo? Pois é... Santos x São Paulo protagonizaram ontem um duelo de fazer inveja a Brain Stocker. Ô jogo ruim!
Era um time que não queria vencer e outro que não sabia como. Resultado; 0x0. E esse placar? O 0x0 é o que há de mais canalha no futebol. Deveriam tirar 15 pontos de cada equipe que terminasse assim, um embate. Vejamos; O torcedor sai de casa para ir a um estádio com uma expectativa maior que àquele italiano rico, metido a besta vai para o Scala de Milão para ver uma boa ópera. Durante a semana chama os amigos, se lembra de duelos épicos, passa horas na fila de ingressos sabendo que estes, já estão em posse dos cambistas, guarda a grana do sanduíche de pernil e da cerveja, ora para que não chova, briga com a mulher e vai pro campo...
Quando chega lá, nada mais no mundo importa. Dane-se a conta de luz vencida, a ministra que “se orgulha de ter mentido na tortura”, o salário mínimo cada vez mais mínimo e minguado, o frio, a chuva e o diabo. Tudo isso é nada diante da grandiosidade do barulho da rede que balança ali, diante de suas retinas. Aí vem os “fessores” e jogam “pelo resultado porque o campeonato é longo e não se pode perder pontos...” Esse pragmatismo matará muito em breve o futebol. Já falei que daqui uns dias, os fessores mudarão o lugar do jogo para uma sala de ar condicionado e o gramado será sumariamente substituído por um tabuleiro de xadrez. A vitória se dará no instante em que o mate for dado não no rei e sim, no pobre torcedor. Parece-me que a apocalíptica previsão ta próxima de acontecer...
NO PALESTRA:
Vencemos! Ganhamos do Atlético do Mauro Celso petraglia por 1x0 e aí lhes pergunto; E daí? Jogo horroroso, time jogando mal e porcamente, juiz anulando gol legítimo dos caras, passes errados, bicão, um horror! Aí quero o paradoxo; De vez em quando, bem que meu time poderia ser meio Botafogo. Pelo menos ficaria mais emocionante. Mas que não se acostume...
RENATINHO O CRAQUE
Após um sábado pra lá de Lou Reed, fui ressuscitado da cama, domingo de manhã pelos berros no portão de meu amigo Pedrinho.
Pedrinho...
É meu amigo de longa data. O conheci lá pelos idos de 1982 quando o Esquerdinha montou um time no Parque Novo Oratório que ficou conhecido como “A Máquina”. O E.C Nacional Das Nações, tinha no infantil uma equipe poderosa que foi campeã de absolutamente tudo que disputou, inclusive o afamado De Paula Esportes, que passava aos sábados na Tv Gazeta. Só não vencemos o DEFI (Departamento Estadual De Futebol Infantil) porque me lembro que numa decisão na Rua Javari, fomos escandalosamente garfados contra o Juventus e o gosto daquele 1x0 me é amargo até hoje. Aliás, quando eu comandava esse esquadrão, esse negócio de 1x0 era o placar típico dos covardes. Timinhos pífios que faziam um golzinho e depois se postavam os dez jogadores atrás da linha da bola.
“Comandava”?? Pois é...
Eu era o camisa 10 daquele time. E naquele domingo, meu parceiro, amigo, meia direita de oficio, Pedrinho, me fez recordar daquela época.Veio em casa e me chamou para ir ao campo do Nacional para assistir um jogo do time que luta pela 1º divisão da várzea de Santo André ou coisa que o valha. Acordei, joguei uma água na cara e fui para o distrital da Rua América do Sul. Chegando lá encontrei o pulguinha que está há uns 30 anos no clube. Veio logo brincando:
“Fala mascara...”
“ E aí Pulguinha... da um abraço aqui...” – Ele veio e disparou:
“Marcelo eu lembro que você era descarado. Se você soubesse quem usou aquela camisa 10 tua, você nem perto dela chegava...”
“Pois é, Pulga. Acontece que nos 11 anos que eu fui dono dela, não apareceu ninguém para me tira-la. Então baixa a bola...”
E todos riram. Emoção. Olhando para aquele campo cuja grama ralada manifestava certo descaso, me lembrei de alguns dos melhores anos da minha vida. Pedrinho lembrava de partidas antológicas nossas e de como o bairro parava para ver aqueles meninos jogarem. Lembrou de um jogo contra o Ipiranga em que metemos um 7x0 nos caras pela decisão do Interligas, das batalhas campais contra o Santo André E.C, que era nosso freguês e vitima predileta e por aí vai. Falamos desses nossos feitos até a hora do jogo contra o Guaraciaba. Foi então que me apresentaram o “craque”.
“Marcelo esse é o Renatinho – Falou-me o Pulguinha – Agora é ele que veste a 10 aqui...”
Veio em minha direção. Garoto alto, 22 anos, bem criado, de chuteiras importadas nos pés, nariz empinado e gestos coreografados. Olhou-me com curiosidade e uma certa desconfiança. Deu-me a mão frouxa e começou a falar. Disse que sempre ouviu muitas histórias minhas por lá no Nacional e de como eu mandei bem por lá. Disse que seu empresário estava mantendo contatos, que provavelmente voltará a Europa e de que sua estada no Nacional era uma passagem para se manter em forma até lá. Perguntei o lugar da Europa e ele me respondeu:
“Malta. Primeira divisão!”
Bem... Fiquei quieto e esperei pelo jogo. O sujeito começou a jogar. E era um tal de mão na cintura, gestos copiados, manias e, passes errados, chutes tortos, raciocínio lento... “Fake”, pensei. Mas vá lá...
De que futebol falamos?
Esqueçam Pelé, Puskas, Didi, Garrincha, Zizinho e Ademir Da Guia. E também nem pensem em Pita, Zico, Falcão, Luizinho, Andrade, Platini, Maradona e Adílio.
Vivemos hoje no país do Dunga, Julio Batista, Elano e... Marcinho Guerreiro, Betão, Gustavo Nery... A garotada já não sabe da realidade do Palmeiras, Santos, Sport, Bahia, Flamengo, sabem sim, do dia a dia do Manchester United, Milan, Liverpool e afins. Já não importa mais um jogador marcar a história de um clube, criar raízes, nada. O lance é jogar duas partidas boas, fazer três gols e ir embora para os euros da Itália, Alemanha e Espanha. Ou Malta...
Nessa nova ordem social, Renatinho tem lugar sim. Quem sabe se daqui uns dias ele não aparece num desses “tele-barracos” televisivos de domingo à noite, (Esses programas ditos de Esporte que mais parecem supermercados) falando da rodada e tudo mais? Vai saber. Por hora, lhes informo que o jogo acabou 3x0 para o Guaraciaba e nosso “craque” saiu no intervalo do primeiro tempo, reclamando de “um puxão na coxa...”
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